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sábado, 24 de março de 2012

QUE UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA QUEREMOS ?


O professor Aquino é um amigo pessoal e eu apóio sua proposta integralmente! Abaixo você entenderá o que diferencia sua proposta, das outras duas candidaturas. Vale a pena ler!


QUE UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA QUEREMOS ?

Prof. Luiz Carlos Andrade de Aquino

É natural na universidade o pensamento crítico. A pluralidade de ideias e visões deve ter
espaço para expressão e debate, pois isso fortalece e legitima as posições e ações para
a implantação de políticas acadêmicas. Ao chegarmos neste momento final do processo
de eleição à Reitoria da Univap, percebemos que os resultados das apresentações das
Propostas dos três candidatos à Reitoria foram, a nosso ver, insuficientes para caracterizar
suas diferenças, talvez pelo próprio formato das apresentações e sabatinas que não permitiu
um debate mais aberto das ideias colocadas por cada um. Desta forma, buscamos, aqui,
sintetizar os pontos que nos separam das propostas dos outros dois colegas. Antes disso, é
importante deixar claro que nossa candidatura reconhece as outras duas propostas e suas
boas intenções, sobretudo por conhecer e admirar os dois outros candidatos. Porém, e sob
pena de não comungar com a reflexão crítica própria de nosso meio, é preciso deixar claro a
identidade de nossa proposta, exatamente o que a diferencia das outras.

Nosso intuito aqui é explicitar a visão que temos de Universidade Comunitária, antevendo
sua maior possibilidade de promover a produção de conhecimentos inovadores e de
inclusão social de seus alunos, sem que se comprometa sua sustentabilidade; pelo contrário,
a Universidade que propomos pode se mostrar mais capaz de arrecadar recursos aplicáveis
em seu projeto acadêmico.

A eleição da Universidade Comunitária como tema desta discussão tem duas motivações.
Primeiro, porque em nossa visão não se atinge os objetivos de sustentabilidade, inovação
na produção do conhecimento e inclusão social, sem um forte enraizamento com o meio,
particularmente em casos como nossa universidade. Também, após o aceno em nosso
primeiro plano (naquele momento éramos os únicos a falar em universidade comunitária),
gradativamente o termo foi sendo incorporado nos discursos dos outros colegas candidatos
(o que não deixa, a nosso ver, de ser um avanço). Todavia, como acontece com outros
termos, este também recobre vários sentidos. Cabe, então, explicitar o que propomos como
comunitário a partir do seguinte:

A universidade comunitária deve se caracterizar pela interação com seu entorno: Nesta
visão a universidade deixa de ser encarada como mera prestadora de serviços, para assumir
o lugar de parceira da cidade e região. Privilegia-se aqui a cooperação da universidade
com os gestores municipais e organizações da sociedade civil na elaboração de projetos
comuns, cujos resultados podem e devem contribuir na melhoria de vida da população
valeparaibana. Neste contexto, as atividades culturais são fundamentais, ao permitirem
universidade e comunidade se conhecerem melhor. Nos projetos culturais que resultarem
de sua ação coordenada vai-se buscar o encontro da cultura erudita com a popular que, a
exemplo de vários movimentos artísticos, tem-se mostrado capaz de construir a inovação.

A universidade comunitária, enraizada em seu meio, é capaz da produção de um
conhecimento ímpar: Na literatura brasileira os exemplos em que o forte enraizamento
com o meio constitui a novidade que se alça a uma condição de universal. Tomemos como
exemplo o nosso escritor maior, Machado de Assis, conhecido e admirado no mundo todo.
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O que o torna único é seu profundo enraizamento no Rio de Janeiro, cidade da qual raras
vezes se ausentou. Nas ciências sociais, o universal também só se viabiliza a partir da análise
de contextos particulares, únicos no tempo e espaço. Destas, destacamos a Antropologia,
cujo pensamento clássico se construiu com a “experiência de aldeia”, quando o antropólogo
se afasta de sua sociedade e passa a conviver cotidianamente com o povo que estuda. Por
fim, mesmo nas chamadas “ciências duras” é possível perceber o impacto do meio sobre
a produção do conhecimento. Este é o exemplo dos diferentes ramos etnocientíficos que
trazem para a academia o conhecimento que populações tradicionais têm do ambiente em
que habitam.

Em todos os exemplos acima, o que encontramos é o diálogo, tal como propusemos, de um
saber que advém da tradição universitária com a cultura que habita fora de seus muros. É
certo que o comunitário não esgota todo o conhecimento acadêmico. Mas também é certo
que ele pode resultar na produção de um saber original, que vai contribuir no avanço da
ciência e chamar a atenção para a instituição que o patrocina.

O aluno da universidade comunitária deve ser formado em condições que o habilitem
a intervir positivamente em seu meio de origem: Devemos lembrar que, se somos uma
instituição privada, temos uma finalidade pública. Assim, o conhecimento que gerarmos e
os recursos humanos que viermos a formar, devem contribuir, como já afirmamos, para a
melhoria de vida na cidade e região. Nosso aluno deve ser formado não só intelectualmente,
mas também eticamente para, ao retornar, atuar positivamente em seu meio de origem.
Preparar um profissional com estas características exige esforços e um certo investimento
no nivelamento do aluno. Também obriga-nos a criar condições para uma maior
permanência dos alunos no ambiente universitário, participando de atividades de pesquisa
e desenvolvimento, de nivelamento e culturais. Neste sentido é que propusemos, já em
nosso primeiro texto, bolsas que não se limitem a cobrir as mensalidades, mas que também
auxiliem o aluno em sua manutenção, liberando-o para uma maior dedicação às atividades
acadêmicas. Podemos imaginar a qualidade de um professor formado nestes moldes e o
resultado de seu trabalho nas escolas públicas.

Nossa proposta de Universidade Comunitária não implica em maiores custos e pode trazer
um aumento de receita: Comparando nossa proposta com as demais, percebemos que
todas concordam na necessidade de maiores investimentos na contratação de professores
e funcionários, ajustes nos planos de carreira, infraestrutura e assim por diante. Nossa
proposta não agrega nenhum gasto já previsto na dos outros postulantes ao cargo de reitor
da Univap.

Nossa divergência se situa no direcionamento dos gastos. Nisto reside a nossa diferença de
conceito de comunitário. Falta, a nosso ver, a ideia de diálogo entre região e universidade
nas outras propostas. Sem ela, a universidade comunitária tende a se manter num papel
de universidade de segunda linha, mera prestadora de serviços, tal como acontece com
as comunitárias americanas e não ocorre, por exemplo, com as nossas PUCs. Para não cair
naquela situação e construirmos uma universidade importante em todas as áreas a que se
dedica, é necessário reconhecer que o segmento das universidades comunitárias não é um
mero coadjuvante no sistema de ensino, mas um elemento de importância na construção e
transmissão de um conhecimento inovador e eticamente comprometido.

Ser Universidade Comunitária pode ampliar os recursos. Isto é previsível por dois fatores.
De um lado, pelo interesse das agências de fomento pelo conhecimento único que, como
nos referimos acima, ao forte enraizamento na comunidade pode produzir e, de outro, pelas
parcerias a que tal relação pode conduzir.

Cabe, agora, o Conselho Curador da FVE decidir, de forma responsável e soberana, qual
Universidade pode ser mais útil na construção de nosso futuro.

Prof. Luiz Carlos Andrade de Aquino

24/03/2012

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