A descoberta de um novo mundo através de uma câmera, é como se estivéssemos vendo um outro mundo. Passamos pelos lugares sem percebermos o que está ao nosso redor, principalmente, nós cidadãos de grandes metrópoles sempre na correria do dia-a-dia.
De uns tempos para cá comecei a enxergar tudo de forma mais atenta graças a câmera do meu smartphone. Em meio ao caos podemos enxergar o belo não reparado ou mostrar aquilo que realmente é feio e não deve ser ignorado.
A fotografia pode nos dizer, por vezes muito mais do que palavras. Um momento e sentimento registrados e eternizados, sejam objetos, paisagens, lugares, pessoas, animais, obras de arte, a bebida, a comida, o caos, o paraíso, o chão ou o céu. E hoje graças a tecnologia podemos mostrar o nosso olhar ao mundo.
Há um tempo atrás estava "de mal" com a minha Sampa, ainda tenho umas rusgas, mas aqui é o meu lugar, além de faltar a praia, acho que falta mais humanidade, sorrisos. Mas voltando ao olhar fotográfico, passei a ver a cidade por um outro ângulo, o porquê dela ser assim, pois a enxergo frio e sisuda, parece um ser arrogante, mas essa é a impressão da pessoa aqui bronqueada.
Ao fotografar a Av. Paulista sinto-me um grãozinho de areia perdido, no meio do centro financeiro da maior capital financeira da América latina. E ao passar pelo centro velho sinto tristeza ao ver prédios que são verdadeiras obras de arte totalmente abandonados, decadência. A quatrocentona sendo desprezada pela população e pelos políticos. Moradores de rua sobrevivendo embaixo das marquises em meio ao lixo junto a esses prédios pichados e deteriorados, tudo fazendo parte de um mesmo concreto, já não tão resistente, pois a qualquer momento irá desmoronar. Quando passo por ali bem cedo é como se eu estivesse no livro do José Saramago "Ensaio sobre a Cegueira". Vejo lixo, gente e edifícios tudo misturado, mas ao fotografar o ruim parece que conseguimos achar um fio de esperança, pois ainda há alguém que sorri, e isso ainda me faz acreditar nessa cidade.
Um dos meus lugares favoritos para me perder em olhar é o Centro Cultural Banco do Brasil, uma construção antiga, um verdadeiro monumento da São Paulo antiga. O local aonde respiro arte e enxergo pessoas, e está lá para visitação gratuita e muitas pessoas passam por ali apressadas sem parar para admirar aquela maravilha. Sempre há algo novo para se ver ali, coisas que nos fazem refletir, viajar, embasbacar em meio ao centro decadente ainda pulsa vida e se respira arte.
E o nosso trânsito caótico que é uma de nossas marcas, essa é a nossa praia, o nosso mar de veículos parados mergulhados nos faróis vermelhos...até nisso dá para se encontrar alguma beleza, pois faz parte de nós. Apesar de reclamar não consigo imaginar Sampa por muitos dias vazias, seria como uma morte, sem as buzinas, sem os motores, sem as sirenes, sem os xingamentos. Somente os loucos, fortes ou sei lá sobrevivem por aqui.
Até aqueles malditos cascalhos portugueses que destroem os saltos dos sapatos femininos, nas ruas têm o seu charme, e eu não sou fã (risos), mas não deixam de ser belos.
E o nosso metrô? Nunca havia prestado tanta atenção nele, além de fotografá-lo como nunca, onde em horário de pico retratamos o acúmulo de pessoas, o desespero e o mau humor de toda essa gente, mas ao passar devagar pelas estações há sempre uma arte exposta que valem a diminuição da correria e pausa para respirar. Essas coisas que me fazem bem.
Ana Paula Santana escrreve semanalmente neste blog.
Nenhum comentário:
Postar um comentário