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terça-feira, 28 de junho de 2011

Manifesto Cultural -


A CULTURA E SEUS PROFISSIONAIS

Acerca de algum tempo atrás eu tive um projeto inabilitado e reprovado em Edital de Lei de Incentivo Municipal, em função exclusiva de um termo que utilizei no histórico daquele projeto quando o mesmo estava em mesa de análise pela curadoria. 
Fiquei sabendo naquela oportunidade, que o Secretário da Cultura não gostou, não aceitou e não aprovou o meu texto do Projeto de gravação de CD quando eu mencionava e dizia: “Queremos colocar no mercado um produto cultural em formato de CD...” – O que pegou e o que fez o meu projeto entrar na lista dos inabilitados, segundo fui informado por amigos, foi a utilização dos termos “colocar no mercado ” e “produto cultural”, tão somente.
Ao que se pode notar, para aquele ilustre secretário da cultura, não existe mercado, ou produto cultural, pelo jeito nem critérios sérios para avaliação de projetos por aquele egrégio grupo selecionador. Porque será, que quando digo nas entrelinhas de um projeto específico para gravação CD, não posso mencionar que “desejo colocar no mercado um produto cultural”? Lamentável! 
Uma grande cidade, com seus conceitos e parâmetros de metrópole, busca sobretudo, traçar um plano estrutural de forma a se criar uma base concreta para se arquitetar a profissionalização da cultura no âmbito geral. A cultura deve ter espaço no mercado.
Existe pois interesse do Estado e de empresas privadas na empreitada em se dinamizar a cultura. É por isso que confirmamos invariavelmente a existência sim de um produto chamado cultura e uma outra coisa chamada mercado para as coisas da cultura. Produto cultural é aquilo que faz movimentar o mercado da cultura e do entretenimento. E esse mercado possui regras, que devem ser ditadas por estratégias e conceitos embasados no entreter e na diversão, distração, festas e desenvolvimento do saber, etc.
O mercado cultural brasileiro é de poucos e para poucos, haja vista que a cultura ainda é um produto caro e de difícil acesso. Muitos ainda tem receio de colocar a cultura como produto e, não entendem que existe um grande e valioso mercado cultural. E, queiram ou não, já acontece um grande choque nesse mercado, mesmo incipiente e sem um desenvolvimento regrado. O mercado das artes e da cultura se desenvolve mesmo a revelia. Muitos ainda tem receio de colocar elementos da cultura como um produto e, por muitas vezes não querem entender sobre a existência de um grande mercado para as coisas da cultura.
Existem indicadores comprobatórios e que nos dão ciência, de que a indústria cultural e do entretenimento poderiam ter uma expansão muito maior. Entretanto, toda essa dificuldade que se apresenta no padrão de desenvolvimento da nossa cultura se dá em função especificamente dessa ínfima condição econômica do nosso povo. O Estado em hipótese alguma, em qualquer momento nunca ofereceu padrões sérios e concretos concernentes aos propósitos e conceitos culturais de base e de formação. O Estado pouco faz pela formação. O Estado, lamentavelmente ainda vislumbra por muitas vezes o panis et circenses... O povo ainda vive de ser enganado.
Quando governos e prefeituras tentam intervir, gerenciar e determinar o que o povo deva receber como elementos e produtos culturais, logicamente somos sugestionados ao elitismo vulgar ou ao ecleticismo insone ou decididamente ao caos obsessivo, certamente. O Estado não pode e não deve ser ditador quando se trata em projetar, planejar e executar a cultura. O Estado só não pode se manter inócuo, diante da modernidade e tecnologia. Ter um Estado com aparelhos culturais de última geração e projetos abrangentes pode ser o diferencial. Mas falta se legitimar o gosto, o interesse e as verdades das causas do que se pressupõe como cultura. Deve ser criada uma base cultural firme, segura e resistente para a nossa sociedade, de forma que a mesma tenha condições estéticas e críticas para cobrar resultados. Sem formação haverá sempre baixa criticidade e pouca cobrança dos responsáveis.
A cultura que muitas cidades possuem não representam os anseios da comunidade, dos produtores culturais e dos artistas. Isso posto, em função de que o Estado projeta conceitos de cultura também embasados no interesse individual de alguns produtores, de agentes políticos e grupos partidários. E muitos desses grupos políticos estão gessados ou empenhados na troca de favores, fazendo com que a administração pública descarregue no seio da sociedade subprodutos culturais para consumo das massas. Nesse contexto podemos arguir, que o papel das entidades, fundações e organismos de cultura dos Municípios, Estados e Federação devem servir de alicerce para a formação de base e desenvolvimento cultural tanto das comunidades, dos artistas, assim como dos produtores culturais. Possuimos diversidade, somos diferenciados, temos até uma cultura plural, mas vivemos sim nos descaminhos do que a arte se nos pode oferecer. O mercado, mesmo estando avesso ao entendimento de muitos, ainda é o que impulsiona os sistemas de produção e criação. E isso não se faz apenas no campo das artes, pois o mercado é tudo... Mercado é aquilo que faz girar qualquer economia. Existe e temos obrigação de criar vertentes e fontes de linhas de mercado para que se possa absorver e escoar os produtos culturais criados e lançados. Sem isso estaremos estagnados.
Sem haver o desenvolvimento e criação de uma realidade para a política de mercado cultural entre os municípios, dificilmente haverá possibilidade em se escoar esse produtos resultantes da criação e do artista. O Estado não precisa ser paternalista. O Estado apenas tem por obrigação em abrigar a cultura também como projeto. Ser economia de mercado também é algo que faz parte das bases da cultura. E uma economia sadia, é o que se pode movimentar e dar desenvolvimento e base de sustentação ao mercado da cultura e das artes em geral, como em qualquer outro mercado. 
A cultura será proativa quando há a existência de informação, formação e continuidade em sua base de manifestação e criação. Não podemos deixar de contextuar, que na cultura é importante a formação. Um seguimento não pode se fartar e prover bons resultados se existe uma macro deficiência nos projetos culturais de formação. Isso é a base para manutenção das manifestações. Falta realmente ao nosso povo consciência e poder de conhecimento sobre o referencial da cultura dentro do plano de desenvolvimento e conceitos de economia. Isso posto, em função de que a cultura, a educação e a saúde não fazem realmente parte da listagem de preocupações de nossos governantes.
O papel da cultura para a sociedade é muito mais que projetos de entretenimento, mas sim aprimoramento de valores estéticos. A cultura dentro do processo de embasamento funciona como instrumento de transformação e que carece de modificações e caminhos abrangentes para o desenvolvimento, cabendo ao Estado essa responsabilidade transformadora... Mas no entanto, a cultura para ser transformadora, para que tenha approach e poder de fogo, carece da educação. Uma sociedade inculta, sem formação, sem bases para discussão, se apodera de conceitos e projetos culturais prontos, não havendo interesse em produzir ou fomentar novas idéias. É muito mais fácil se apoderar de coisas que estão prontas. Para haver desenvolvimento cultural, teríamos por obrigação em possuir um Estado que ofereça uma educação forte e robusta. Não pode haver cultura sem uma educação presente e consciente. Sendo assim, ainda estamos muito longe de conquistas, porque nossa educação ainda é uma mentira mal contada. 

Beto Santos é compositor, cantor, escritor de contos e causos do cotidiano. Também JÁ FOI o segundo mais antigo concorrente dos circuitos dos festivais ainda em atividades no Brasil. betosantos2006@yahoo.com.br

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